Felippe Lucas Deliberalli (CRP 06/80567) é psicólogo clínico formado em 2004 pela Universidade São Marcos e Psicanalista formado pelo Instituto da Psicanálise Lacaniana (IPLA). Atua há 20 anos com atendimento psicanalítico e supervisão a psicólogos e psicanalistas recém-formados, estando em constante estudo e aprimoramento nas teorias freudiana e lacaniana.
"A psicanálise como teoria e método de tratamento psíquico oferece escuta diferenciada, ajudando o paciente a compreender e ressignificar seu sofrimento emocional e psíquico. É um convite à transformação da própria vida."
Agendar ConsultaA Psicanálise oferece uma escuta diferenciada e atende às mais diversas manifestações de sofrimento emocional e psíquico. No decorrer da vida é comum que as pessoas se deparem com desafios que podem desestabilizá-las, entristecê-las, provocar ansiedade, depressão e uma infindável sorte de mal-estares. No intuito de acolher e compreender as fontes de angústia e dor emocional e psíquica, o psicanalista é aquele que pode ajudar o paciente a entender e interpretar esses sofrimentos, tornar-se consciente de sua singularidade, e assim, entender o lugar que assume em suas relações. A psicanálise é um convite a conhecer, reconhecer, transformar e curar.
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Não me resta dúvidas de que uma das grandes qualidades de Jacques Lacan é a capacidade brilhante de conseguir dizer muito sobre um determinado assunto em poucos parágrafos. Talvez por isso, seja tão comum ouvir por aí que ler Lacan é difícil. Como exemplo dessa característica marcante do grande psicanalista francês, dedicarei grande parcela dessa pequena reflexão a um parágrafo do texto “Função e campo da fala e da linguagem em Psicanálise”, que consta em seus “Escritos”. Ele nos diz o seguinte: “Pois se, para admitir um sintoma na psicopatologia psicanalítica, seja ele neurótico ou não, Freud exige o mínimo de sobredeterminação constituído por um duplo sentido, símbolo de um conflito defunto, para-além de sua função, num conflito presente não menos simbólico, e se ele nos ensinou a acompanhar, no texto das associações livres, a ramificação ascendente dessa linhagem simbólica, para nela detectar, nos pontos em que as formas verbais se cruzam novamente, os nós de sua estrutura, já está perfeitamente claro que o sintoma se resolve por inteiro numa análise linguajeira, por ser ele mesmo estruturado como uma linguagem, por ser a linguagem cuja fala deve ser libertada.” O que mais me convoca na citação acima é que ao afirmar que acompanhando, através das associações livres a ramificação ascendente de uma linhagem simbólica, podemos nela detectar, os nós de sua estrutura, Lacan, de forma descritiva, nos oferece um de seus aforismas mais famosos, aquele que diz que o inconsciente é estruturado como uma linguagem. E, para além disso, quando diz que “o sintoma se resolve por inteiro numa análise linguageira, por ser ele mesmo estruturado como uma linguagem”, nos abre o caminho para afirmarmos que é por meio da linguagem que se decifra um sintoma e se ganha, então, acesso à lógica do inconsciente. Outro ponto digno de nota é que ele não faz essa colocação tão importante como uma grande novidade, mas como se fosse um lembrete de se tratar de algo que já estava nos ensinamentos freudianos, mesmo sem o próprio Freud ter sido iniciado na Linguística. Vale lembrar, que ele usa o termo sobredeterminação, utilizado também por Freud em “A Interpretação dos Sonhos", e que para o austríaco, “ quando desenvolvo um sintoma, produzo uma mensagem codificada sobre meus segredos mais íntimos, meus desejos e traumas inconscientes” (Zizek, 2010). O sintoma é uma mensagem criptografada que encontra na Psicanálise os meios de sua decifração. O uso deste termo por Lacan, me remete ao texto “As máscaras do sintoma”, no livro 5 de “O Seminário”, onde ele diz: “A ideia de máscara significa que o desejo se apresenta de uma forma ambígua, que justamente não nos permite orientar o sujeito em relação a esse ou aquele objeto da situação. Há um interesse do sujeito na situação como tal, isto é, na relação desejante. É precisamente isso que é exprimido pelo sintoma que aparece, e é isso que chamo de elemento de máscara do sintoma.” Se a ideia de máscara do sintoma se apresenta de forma ambígua, então podemos pensá-la como uma outra forma de se falar da sobredeterminação, pois, se por um lado ela alivia o peso da culpa do portador do desejo e faz com que este possa minimamente gozar, por outro, ela mantém o decoro e não o revela. Quero referir- me agora ao seminário lacaniano sobre “A carta roubada”, do qual extraio, pelo olhar de Slavoj Zizek, que a “única carta que chega completa e verdadeiramente ao seu destinatário é a carta não enviada - seu verdadeiro destinatário não são os outros de carne e osso, mas o próprio grande Outro”. Digo isso, porque me parece um bom exemplo de como a relação entre linguagem e campo simbólico se mostra por meio dos sintomas. Um sintoma (escrever uma carta e não enviá-la), como formação substitutiva que é, tem por característica o fato de não ter se exprimido em sua forma original, ou seja, uma artimanha do desejo, que recorre ao uso de uma máscara para se manifestar. Aqui vemos uma lógica do inconsciente, um modo de operar, que faz com que aquilo que é desejo alcance algum tipo de manifestação, mesmo sem poder ser dito, sentido ou vivido. É sob a lógica do inconsciente que o sintoma se faz e se o inconsciente é estruturado como uma linguagem, o desejo é a matéria da qual é feita essa estrutura. Para concluir, tomo novamente de empréstimo as palavras de Slavoj Zizek, em seu pequeno, porém interessante livro “Como Ler Lacan”, “A linguagem é um presente tão perigoso para a humanidade quanto o cavalo foi para os troianos: ela se oferece para nosso uso gratuitamente, mas depois que a aceitamos, ela nos coloniza”. Referências Bibliográficas LACAN, Jacques. Escritos. Trad. Vera Ribeiro - Zahar, 1998. LACAN, Jacques. O Seminário - Livro 5 - As formações do inconsciente (1957-1958). Trad. Vera Ribeiro - Zahar. LACAN, Jacques. O Seminário - Livro - Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise (1964) - Trad. M. D. Magno - Zahar, 2008 ZIZEK, Slavoj. Como ler Lacan. Trad. Maria Luiza X. de A. Borges - Zahar, 2010
Em suas Conferências Introdutórias à Psicanálise (1916/1917), mais precisamente em O sentido dos sintomas, Sigmund Freud nos apresenta a ideia de que “os sintomas neuróticos têm seu sentido, assim como os atos falhos e os sonhos, e, como estes, guardam também relação com a vida das pessoas que os exibem”. Por mais óbvio que possa parecer, volto minha atenção para o peso que essa afirmação deve ter na busca de resposta para a proposta deste trabalho, pois se os sintomas tem seu sentido, assim como os atos falhos e os sonhos, é porque são decorrentes de processos semelhantes e tentativas de servir ao mesmo fim - a expressão disfarçada ou atenuada de uma exigência instintual reprimida devido ao fato do Eu senti-la como perigosa, ou por correr se o risco de sua satisfação acarretar algo de traumático. Dessa forma, para se compreender a noção freudiana de sintoma é necessário antes se ter ciência a respeito do papel do Eu e de como a repressão atua nessa instância psíquica. Devemos dizer que diferente do Id ou Isso, onde prevalece o princípio de prazer, no Eu, é vigente o princípio de realidade, ou seja, nessa instância psíquica se faz um tipo de análise prévia das possibilidades de obtenção de sucesso na realização das empreitadas que visam atender as demandas dos impulsos instintuais do Id. Trocando em miúdos, é papel do Eu determinar se o desejo pode ser realizado ou se a realização deve ser adiada, substituída ou compensada a partir de alguma modificação do mundo exterior. Nas palavras de Freud em seu Compêndio de Psicanálise (1940): “... sua atividade construtiva consiste em intercalar a atividade de pensamento entre a exigência pulsional e a ação de satisfação, a qual, após sua orientação no presente e avaliação de experiências anteriores, procura adivinhar, mediante ações experimentais, o sucesso das empreitadas pretendidas. Desse modo, o Eu chega à decisão quanto a se a tentativa de obter satisfação deve ser executada ou adiada, ou se a exigência pulsional deverá ser completamente reprimida por ser perigosa (princípio de realidade).” Para além disso, temos em Inibição, Sintoma e Angústia (1926), que o sintoma é uma formação substitutiva de uma satisfação instintual não obtida, decorrente do processo de repressão no Eu, (sob ordem do Super-Eu) do que não pôde ser sentido, pensado e/ou vivido, porque se o fosse acarretaria prazer onde não é permitido. É digno de nota também, que dentro da perspectiva freudiana de sintoma, devemos atentar para os caminhos que essas formações substitutivas podem tomar. No campo das neuroses, temos como exemplos aquelas que segundo o próprio Freud, mais contribuíram para o desenvolvimento da Psicanálise, a saber; histeria e neurose obsessiva. Enquanto a primeira faz a chamada conversão, e, assim, chega ao corpo, na segunda os sintomas são da ordem do pensamento. Tomando emprestado o que bem disse Dorothee Rüdiger, na aula “O sintoma e as formações do inconsciente”, ministrada em 16/03/21, “o sintoma é gritaria”. Porém, uma gritaria onde antes não pôde ser simples e calma expressão. É como se o sujeito, ao tentar fugir daquilo que reprime, fosse colocado em contato justamente com o conteúdo do qual gostaria de nunca se lembrar, porém de forma disfarçada, modificada ou atenuada. Referências Bibliográficas FREUD, Sigmund. Obras completas, volume 13; Conferências introdutórias à Psicanálise (1916/1917). Trad. Sérgio Tellaroli - Companhia das Letras, 2014. FREUD, Sigmund. Compêndio de Psicanálise e outros escritos inacabados. Trad. Pedro Heliodoro Tavares - Autêntica Editora, 2018. FREUD, Sigmund. Obras Completas, volume 17; Inibição, Sintoma e Angústia, (1926). Trad. Paulo César de Souza
Não há responsabilidade senão sexual, disse Jacques Lacan em seu Seminário XXIII (1967), e, para refletir sobre isso, creio que seja apropriado citar também Sigmund Freud em O mal-estar na civilização (1930), como um pensador que já falava sobre a responsabilidade que incide sobre o inconsciente: “Não há, aqui, um conselho válido para todos; cada um tem que descobrir a sua maneira particular de ser feliz.” Ao analisar o dizer do psicanalista francês, citado no primeiro parágrafo deste texto, me parece que somos levados aos botões do pai e da responsabilidade introduzidos por Jorge Forbes. É como se esses dois botões fossem acionados pelo balançar de um pêndulo, cada um posicionado ao lado oposto do outro. O botão do pai, acionado fortemente na era moderna era perfeito para a civilização dos descontentes, já que para estes o objeto do desejo era incestuoso e deveria ser barrado. Assim o desejo era cristalizado como impossível. O botão da responsabilidade, decorrente de um novo mundo que desabrocha de dentro do mundo antigo, se pressionado de forma constante pelo homem desabonado do inconsciente, se apresenta como uma alternativa que torna possível, na clínica do Real, que se encontre uma orientação ligada a um não saber. Ainda mais importante, faz com que seja possível para o homem desbussolado (termo cunhado por Jorge Forbes), se reinventar subjetivamente para viver com a explosão de ofertas de gozo do mundo atual. Isso é de grande importância, pois essa explosão até pode ter começado como uma faísca, mas hoje nos leva ao ponto da exaustão. Isso fica claro nas redes sociais, onde alguém pode falar sem ter que ouvir, no Netflix onde muitos perdem mais tempo escolhendo do que assistindo ao filme, no Ifood que em segundos traz centenas de ofertas de diversas culinárias, e até mesmo na existência de aplicativos “delivery” de drogas lícitas e ilícitas. Na Psicanálise, temos o sexual como fator importantíssimo na constituição do psiquismo e subjetividade humana e não somente como o ato corporal, ou seja, o sexual em suas mais diversas implicações. Adicionamos a isso o componente do gozo como algo que está Além do Princípio do Prazer e que tem estado a um clique de distância no mundo pós-moderno. Sendo assim, não há mesmo responsabilidade senão sexual. Porém, precisamos avaliar outro ponto importante. Se falamos de um botão da responsabilidade é porque vivemos em um momento histórico que nos coloca diante da satisfação desbussolada e com isso, faz surgir novas formas de sofrimento. Diante do excesso temos que lidar com as escolhas que fazemos e com o não-gozo proveniente das perdas das escolhas que não fizemos. E por lidar, quero dizer que devemos nos implicar subjetivamente diante dos modos de gozo, ou seja, nos responsabilizar. Talvez, aqui encontremos um registro do que Lacan chamou de “não-resposta” na citação de seu Seminário XXIII (1967) que motivou esse texto; “Isso implica, ao bel-prazer do pensamento, que, nesse sentido em que responsabilidade quer dizer não-resposta ou resposta pela tangente, não há responsabilidade senão sexual e todo o mundo, afinal de contas, tem esse sentimento.” Como conclusão, temos a responsabilidade como um precioso orientador clínico dos tempos atuais. A mãe de Adoniran, que no famoso samba Trem das onze, não iria dormir enquanto ele não chegasse, agora além de dormir ainda deve assistir a um filme “água com açúcar” no Netflix para ajudar a pegar no sono. Ao malandro Adoniran, para que entre em TerraDois, cabe não só se responsabilizar por chegar e sair quando bem entender, mas também por viver sabendo que a mãe, que antes o esperava acordada e com isso lhe servia de baliza, foi substituída pela responsabilidade, pela relação com o tempo e com o desejo de forma singular.
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